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Em discurso a líderes, Lula alerta para urgência climática: ‘Combate deve estar no centro das atenções’
Presidente declara que ‘hoje os olhos do mundo se voltam para Belém com imensa expectativa’ e enfatiza: ‘É o momento de levar a sério os alertas da ciência’
Jovem Pan / Nícolas Robert
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou, nesta quinta-feira (6), na abertura da sessão plenária da Cúpula do Clima, em Belém, evento que antecede a 30ª edição da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30). Em sua fala, o petista declarou que “hoje os olhos do mundo se voltam para Belém com imensa expectativa” e alertou que “o combate às mudanças do clima deve estar no centro das atenções”.
“É o momento de levar a sério os alertas da ciência. É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la. Para o Brasil, a COP30 será o ponto culminante de um caminho pavimentado ao longo de nossas presidências do G20 e do BRICS”, declarou o presidente.
Os líderes de várias regiões do mundo se reúnem a partir desta quinta (6) para tentar salvar a luta pelo clima, ameaçada por divisões, tensões internacionais e a ausência dos Estados Unidos. Quase 50 chefes de Estado e de Governo responderam ao convite de Lula para comparecer à cidade antes da COP30 da ONU (que vai do dia 10 a 21 de novembro).
No discurso, Lula disse que “a gente tem que agradecer a disposição para fazer essa COP da Amazônia na Amazônia”. A escolha de Belém gerou polêmica devido à sua infraestrutura limitada, que encareceu os preços e complicou a viagem de pequenas delegações e representantes de ONGs. A cidade de quase 1,4 milhão de habitantes nunca havia recebido um evento internacional de tal magnitude e as autoridades aproveitaram para dar uma nova cara à cidade.
Presidente Lula fez dois alertas que, segundo ele, são necessários para “reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos”.
Para o petista, o primeiro descompasso é “a desconexão entre os salões diplomáticos e o mundo real”.
“As pessoas podem não entender o que são emissões ou toneladas métricas de carbono, mas sentem a poluição. Podem não compreender o que são sumidouros de carbono ou reguladores climáticos, mas reconhecem o valor das florestas e dos oceanos. Podem não ser versadas em financiamento concessional ou misto, mas sabem que nada se faz sem recursos. Podem não assimilar o significado de um aumento de um grau e meio na temperatura global, mas sofrem com secas, enchentes e furacões. O combate à mudança do clima deve estar no centro das decisões de cada governo, de cada empresa, de cada pessoa. O conceito de mutirão, que traduz um esforço coletivo em torno de um objetivo comum, é o espírito que vai animar Belém. A participação da sociedade civil e o engajamento de governos subnacionais será crucial. Seremos inspirados pelos povos indígenas e pelas comunidades tradicionais, para quem a sustentabilidade sempre foi sinônimo de viver”, disse.
O segundo é “o descasamento entre o contexto geopolítico e a urgência climática”.
“Forças extremistas fabricam inverdades para obter ganhos eleitorais e aprisionar as gerações futuras a um modelo ultrapassado que perpetua disparidades sociais e econômicas e degradação ambiental. Rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam a atenção e drenam os recursos que deveriam ser canalizados para o enfrentamento do aquecimento global. Enquanto isso, a janela de oportunidade que temos para agir está se fechando rapidamente. A mudança do clima é resultado das mesmas dinâmicas que, ao longo de séculos, fraturaram nossas sociedades entre ricos e pobres e cindiram o mundo entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Será impossível contê-la sem superar as desigualdades dentro das nações e entre elas. A justiça climática é aliada do combate à fome e à pobreza, da luta contra o racismo, da igualdade de gênero e da promoção de uma governança global mais representativa e inclusiva”, declarou.
Lula também celebrou os 80 anos da Organização das Nações Unidas e os 10 anos do Acordo de Paris. “A força do Acordo de Paris reside no respeito ao protagonismo de cada país na definição de suas próprias metas, à luz de suas capacidades nacionais. Passada uma década, ele se tornou o espelho das maiores qualidades e limitações da ação multilateral. Graças ao Acordo, nos afastamos dos prognósticos que anteviam aumento de até cinco graus na temperatura média global até o final do século”, finalizou.














